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Fracasso Escolar: um sintoma da contemporaneidade revelando a singularidade

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INTRODUÇÃO A presente tese consiste num estudo sobre o sintoma escolar considerado em sua dimensão social e em sua singularidade. A perspectiva de análise adotada inspira-se no paradigma pós-moderno e define-se por uma abordagem teórico-prática. Nosso ponto de partida foi o desenvolvimento de dois casos clínicos que se constituíram no eixo condutor do percurso teórico. Embora os casos, depois de diversos rearranjos, apareçam no capítulo final, isto se deve apenas à tentativa de uma organização acadêmica, uma vez que se fizeram presentes na tessitura de todos os capítulos. As elaborações teóricas apresentadas estão ancoradas na Psicopatologia Psicanalítica; contudo, para além da singularidade, fomos buscar na Filosofia e na Psicologia recursos teóricos para melhor apreensão desse fenômeno particular, embora sintomático, do mundo em que vivemos. Freud postulou a existência do inconsciente, lançando os fundamentos de uma disciplina capaz de iluminar a psicogênese do sintoma. Foi, pois, com base nos procedimentos do Pai da Psicanálise que elaboramos este estudo sobre um sintoma que se apresenta com especificidade: ele é essencialmente mobilizador, determinado e valorizado culturalmente, e encontra condições de possibilidade num sujeito psíquico singular. A especificidade do sintoma escolar interroga-nos sobre a relação de uma forma particular de psique com as características do mundo contemporâneo. A tessitura deste trabalho foi determinada por nossa experiência clínica. Desse lugar, diante do fenômeno empírico, interrogamo-nos sobre o alcance e os limites das teorias que fundamentam nossa prática. Este estudo pretende focalizar o sintoma escolar com base em diferentes perspectivas: análise do sintoma em sua determinação cultural, análise do sintoma no contexto da instituição escolar e análise do sentido do sintoma no contexto da singularidade individual, considerado com base na estrutura da personalidade. Em uma primeira aproximação, o termo sintoma significa um entrave que faz sinal. Sinaliza que em nossa cultura a escola vai mal, a família sofre, a criança adoece. Assim, na presente tese a expressão sintoma escolar refere-se a todo tipo de entrave que leva ao fracasso escolar, seja decorrente de aspectos culturais, sociais, familiares, pedagógicos, orgânicos, intrapsíquicos etc. É importante esclarecer que na abordagem de nosso trabalho esses aspectos não existem de forma isolada, e com isso queremos dizer que não há nada que aconteça no âmbito de um desses aspectos que não interfira ou modifique todos os demais. Como dissemos, trata-se de uma primeira aproximação, de forma que, ao longo dos capítulos, esses pontos serão desenvolvidos pormenorizadamente. Assim, neste estudo a categoria sintoma escolar abarca conceitos como dificuldades de aprendizagem escolar, problemas de aprendizagem escolar, distúrbios de aprendizagem escolar, problemas específicos da aprendizagem escolar, déficit de atenção, distúrbios de leitura, distúrbios de escrita, dislexia, distúrbios de conduta, e outros. Outro termo que merece uma primeira aproximação é sofrimento. No contexto desta tese, ele é utilizado no sentido de padecimento. Padecer no sentido de suportar, agüentar, consentir, admitir, permitir, que são possibilidades semânticas que se encontram ao longo do texto. Uma vez introduzido um operador de leitura comum, podemos expor as proposições presentes no corpo de nosso trabalho. O sintoma escolar e, conseqüentemente, o fracasso escolar impõem questões essenciais àqueles que se dedicam a seu estudo. São elas: sua determinação cultural, sua urgência e suas condições de possibilidade na singularidade. Ao falarmos na determinação cultural do sintoma na aprendizagem, estamos referindo-nos ao papel da escola em sua ocorrência. Essa instituição objetiva responder a um ideal de educação e traz consigo a dimensão do impossível. Preparada para receber a criança ideal e tendo em vista responder às demandas narcísicas da humanidade, está fatalmente fadada ao fracasso. Essa mesma trama que impõe à escola a dimensão do impossível determina a urgência na anulação de seus efeitos. Estruturada em torno de um conceito imaginário – a criança ideal –, projeta na criança real a culpa pela impossibilidade de concretização dos fins a que se destina. A criança que não aprende o que a escola determina suporta toda a rejeição destinada àqueles que questionam o ideal narcísico. Se, por um lado, o resultado do não-aprender em nossa cultura é uma imagem excessivamente desvalorizada de si mesmo e uma deterioração do eu; por outro lado, a condição biológica do ser humano é mais um agravante na urgência determinada pela natureza do sintoma. A maturação biológica é um fator que devemos considerar quando se trata de aquisições cognitivas e a aprendizagem escolar está dialeticamente vinculada a aquisições dessa natureza. Enfim, o sintoma escolar traz consigo uma urgência, visto que a maturação biológica pode imprimir-lhe irreversibilidade orgânica, e a resposta do meio ao sujeito que o suporta, a marginalidade definitiva. As condições de possibilidade desse sintoma na singularidade é também uma questão essencial quando se pesquisam os problemas da aprendizagem escolar. A compreensão dessa relação resgata a originalidade e a autonomia do sujeito e traz de volta a criança real, perdida na modernidade, justamente quando surge a noção de infância. Quando se trata de pensar o sentido desse sintoma, defrontamos com questões fundamentais: Diante do peso da cultura, quais são as condições de possibilidade desse sintoma culturalmente determinado, ou seja, qual a natureza da relação psique-mundo que determina a formação desse sintoma da contemporaneidade? Qual a relação entre a singularidade e a configuração do sintoma escolar? Qual deve ser o lugar destinado ao sintoma escolar no contexto da clínica? Essas questões acabaram por colocar em crise conceitos centrais de teorias que fundamentavam nossa prática clínica e levaram-nos a procurar na Psicopatologia Psicanalítica a compreensão de um sintoma tão marcadamente cultural. Freud, diante do mistério neuro-anatômico representado pelo sintoma histérico, foi levado a postular a existência do inconsciente, uma vez que as explicações da medicina de sua época não davam conta do fenômeno empírico. O Pai da Psicanálise mostra que o membro paralisado não é escolhido aleatoriamente; ele tem um sentido e cumpre uma função na história pessoal de cada um. Da mesma forma, em face do sintoma escolar, fomos levados a perceber que existe um sentido particular dado pela singularidade individual e determinado pela estrutura de personalidade do sujeito, que encontra em nossa cultura condições e terreno fértil para sua formação. Assim, a prática leva-nos a considerar o alcance da teoria e a definir o método de investigação adotado. Apoiados nos casos clínicos e no paradigma científico pós-moderno, procuramos construir um instrumento de revisão crítica de alguns conceitos teóricos que vêm norteando a clínica dos problemas escolares. Com base nessas considerações, foi-se dando a tessitura desta tese cuja apresentação final consta de sete capítulos, escritos na forma de versões que iluminam nossa questão. Apresentamos no Capítulo 1, “Fracasso escolar: um sintoma social da contemporaneidade”, uma breve incursão na literatura que trata a questão do fracasso escolar apontando as dicotomias decorrentes da postura científica que predomina na academia até os dias atuais. No Capítulo 2, “Campo epistemológico”, definimos a postura epistemológica e as estratégias de pensamento adotadas, e apresentamos o corpus crítico e a necessidade de trabalhar a questão-problema por meio de versões teóricas. No Capítulo 3, “Pensando a escola: da consciência filosófica à modernidade e formação de um sintoma social na contemporaneidade”, apresentamos uma digressão histórico-filosófica com o objetivo de rastrear as vicissitudes de nossa cultura ocidental, que fizeram do problema da aprendizagem escolar um sintoma social. No Capítulo 4, “O sintoma escolar: uma questão de sentido e direção”, estudamos a especificidade do sintoma na aprendizagem escolar. Partimos da noção de sintoma do ponto de vista psicanalítico e buscamos seu sentido como uma criação particular, única de cada sujeito, que encontra em nossa cultura as condições de possibilidade de sua formação; ela levou-nos a perceber a necessidade de avançarmos nos estudos sobre o sintoma escolar. Mostramos que, quando o sintoma se apresenta como problema na aprendizagem escolar, encontra terreno fértil e ocupa uma posição privilegiada no mundo em que vivemos, definindo a direção da intervenção. No Capítulo 5, "A Psicopatologia Fundamental aproximando-nos do fenômeno em questão", apresentamos um estudo a respeito da origem filogenética do psiquismo e de seu caráter psicopatológico, com base nas formulações freudianas, passando a seguir ao estudo da personalidade e conduta do ser humano de uma perspectiva da Psicopatologia Psicanalítica. No Capítulo 6, "O sintoma escolar em sua singularidade: a prática interrogando a teoria", analisamos o sentido do sintoma escolar considerando os casos que motivaram nosso estudo e com base nos pressupostos da teoria do desenvolvimento emocional de Winnicott e da psicologia da conduta de Bleger. São dois casos exemplares que, em sua complexidade, possibilitaram-nos repensar nossa clínica. Foram chamados caso G. e caso C., e nos foram encaminhados em virtude de sua problemática escolar, ou seja, com o pedido de intervenção psicopedagógica. G. chegou a nossa clínica com 6 anos e 11 meses, apresentando severas dificuldades na área da cognição, linguagem e motricidade. Havia ingressado na pré-escola naquele ano e sua professora considerava-o deficiente mental, chegando a sugerir aos pais que procurassem uma escola especial para alunos deficientes. No entanto, ao longo do processo de intervenção, G. revelou-nos o sentido original de seu sintoma: uma forma de defender seu eu do fracasso ambiental. C. por sua vez, uma garota de 11 anos, que cursava a 5a série, chegou à clínica por exigência da escola, após ter agredido fisicamente a professora de Matemática, grávida de sete meses. Seus pais traziam como queixa: comportamento agressivo, dificuldades na escrita e em Matemática e problemas de relacionamento. O sintoma de C., muito mais do que indicar um entrave, revelava seu ser, uma singularidade que não encontrava outra forma de existir que não fosse na própria estrutura de seu sintoma. Fazia sintoma em relação à aprendizagem escolar porque o saber escolar não lhe interessava; queria saber além, queria saber o não sabido, estava procurando o impossível, aquela situação em que acreditou uma vez encontrar-se e supunha ser plena. A cada sessão, G. e C. levaram-nos a repensar nossa clínica e a interrogar a teoria. Além desses, ao longo do texto, apresentamos fragmentos de outros casos, que ilustram as formulações teóricas que desenvolveremos. Assim, em “Tecendo um novo olhar sobre o sintoma escolar”, podemos então responder à pergunta: Em que circunstâncias um comportamento culturalmente determinado torna-se sintomático? Discorremos então sobre as condições de possibilidade de uma forma de subjetividade que, diante do imaginário da pós-modernidade, opera o sintoma escolar. Assim, fomos tecendo um novo olhar sobre o sintoma escolar, que resulta do descentramento possibilitado pelos diferentes campos epistemológicos. Como conseqüência, deparamo-nos com teorias relativizadas e um desvelamento do fenômeno estudado. Por fim, apresentamos as modificações operadas na prática, ou seja uma nova forma de atuar, em que não existe um manejo único, mas adaptações que visam fazer frente às necessidades de cada um e que dependem da experiência emocional do paciente. Como diz Winnicott (1982, p. 480) "aqui o trabalho terapêutico se liga àquele feito pelo cuidado infantil, pela amizade, pela fruição da poesia e atividades culturais em geral".
Title: Fracasso Escolar: um sintoma da contemporaneidade revelando a singularidade
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INTRODUÇÃO A presente tese consiste num estudo sobre o sintoma escolar considerado em sua dimensão social e em sua singularidade.
A perspectiva de análise adotada inspira-se no paradigma pós-moderno e define-se por uma abordagem teórico-prática.
Nosso ponto de partida foi o desenvolvimento de dois casos clínicos que se constituíram no eixo condutor do percurso teórico.
Embora os casos, depois de diversos rearranjos, apareçam no capítulo final, isto se deve apenas à tentativa de uma organização acadêmica, uma vez que se fizeram presentes na tessitura de todos os capítulos.
As elaborações teóricas apresentadas estão ancoradas na Psicopatologia Psicanalítica; contudo, para além da singularidade, fomos buscar na Filosofia e na Psicologia recursos teóricos para melhor apreensão desse fenômeno particular, embora sintomático, do mundo em que vivemos.
Freud postulou a existência do inconsciente, lançando os fundamentos de uma disciplina capaz de iluminar a psicogênese do sintoma.
Foi, pois, com base nos procedimentos do Pai da Psicanálise que elaboramos este estudo sobre um sintoma que se apresenta com especificidade: ele é essencialmente mobilizador, determinado e valorizado culturalmente, e encontra condições de possibilidade num sujeito psíquico singular.
A especificidade do sintoma escolar interroga-nos sobre a relação de uma forma particular de psique com as características do mundo contemporâneo.
A tessitura deste trabalho foi determinada por nossa experiência clínica.
Desse lugar, diante do fenômeno empírico, interrogamo-nos sobre o alcance e os limites das teorias que fundamentam nossa prática.
Este estudo pretende focalizar o sintoma escolar com base em diferentes perspectivas: análise do sintoma em sua determinação cultural, análise do sintoma no contexto da instituição escolar e análise do sentido do sintoma no contexto da singularidade individual, considerado com base na estrutura da personalidade.
Em uma primeira aproximação, o termo sintoma significa um entrave que faz sinal.
Sinaliza que em nossa cultura a escola vai mal, a família sofre, a criança adoece.
Assim, na presente tese a expressão sintoma escolar refere-se a todo tipo de entrave que leva ao fracasso escolar, seja decorrente de aspectos culturais, sociais, familiares, pedagógicos, orgânicos, intrapsíquicos etc.
É importante esclarecer que na abordagem de nosso trabalho esses aspectos não existem de forma isolada, e com isso queremos dizer que não há nada que aconteça no âmbito de um desses aspectos que não interfira ou modifique todos os demais.
Como dissemos, trata-se de uma primeira aproximação, de forma que, ao longo dos capítulos, esses pontos serão desenvolvidos pormenorizadamente.
Assim, neste estudo a categoria sintoma escolar abarca conceitos como dificuldades de aprendizagem escolar, problemas de aprendizagem escolar, distúrbios de aprendizagem escolar, problemas específicos da aprendizagem escolar, déficit de atenção, distúrbios de leitura, distúrbios de escrita, dislexia, distúrbios de conduta, e outros.
Outro termo que merece uma primeira aproximação é sofrimento.
No contexto desta tese, ele é utilizado no sentido de padecimento.
Padecer no sentido de suportar, agüentar, consentir, admitir, permitir, que são possibilidades semânticas que se encontram ao longo do texto.
Uma vez introduzido um operador de leitura comum, podemos expor as proposições presentes no corpo de nosso trabalho.
O sintoma escolar e, conseqüentemente, o fracasso escolar impõem questões essenciais àqueles que se dedicam a seu estudo.
São elas: sua determinação cultural, sua urgência e suas condições de possibilidade na singularidade.
Ao falarmos na determinação cultural do sintoma na aprendizagem, estamos referindo-nos ao papel da escola em sua ocorrência.
Essa instituição objetiva responder a um ideal de educação e traz consigo a dimensão do impossível.
Preparada para receber a criança ideal e tendo em vista responder às demandas narcísicas da humanidade, está fatalmente fadada ao fracasso.
Essa mesma trama que impõe à escola a dimensão do impossível determina a urgência na anulação de seus efeitos.
Estruturada em torno de um conceito imaginário – a criança ideal –, projeta na criança real a culpa pela impossibilidade de concretização dos fins a que se destina.
A criança que não aprende o que a escola determina suporta toda a rejeição destinada àqueles que questionam o ideal narcísico.
Se, por um lado, o resultado do não-aprender em nossa cultura é uma imagem excessivamente desvalorizada de si mesmo e uma deterioração do eu; por outro lado, a condição biológica do ser humano é mais um agravante na urgência determinada pela natureza do sintoma.
A maturação biológica é um fator que devemos considerar quando se trata de aquisições cognitivas e a aprendizagem escolar está dialeticamente vinculada a aquisições dessa natureza.
Enfim, o sintoma escolar traz consigo uma urgência, visto que a maturação biológica pode imprimir-lhe irreversibilidade orgânica, e a resposta do meio ao sujeito que o suporta, a marginalidade definitiva.
As condições de possibilidade desse sintoma na singularidade é também uma questão essencial quando se pesquisam os problemas da aprendizagem escolar.
A compreensão dessa relação resgata a originalidade e a autonomia do sujeito e traz de volta a criança real, perdida na modernidade, justamente quando surge a noção de infância.
Quando se trata de pensar o sentido desse sintoma, defrontamos com questões fundamentais: Diante do peso da cultura, quais são as condições de possibilidade desse sintoma culturalmente determinado, ou seja, qual a natureza da relação psique-mundo que determina a formação desse sintoma da contemporaneidade? Qual a relação entre a singularidade e a configuração do sintoma escolar? Qual deve ser o lugar destinado ao sintoma escolar no contexto da clínica? Essas questões acabaram por colocar em crise conceitos centrais de teorias que fundamentavam nossa prática clínica e levaram-nos a procurar na Psicopatologia Psicanalítica a compreensão de um sintoma tão marcadamente cultural.
Freud, diante do mistério neuro-anatômico representado pelo sintoma histérico, foi levado a postular a existência do inconsciente, uma vez que as explicações da medicina de sua época não davam conta do fenômeno empírico.
O Pai da Psicanálise mostra que o membro paralisado não é escolhido aleatoriamente; ele tem um sentido e cumpre uma função na história pessoal de cada um.
Da mesma forma, em face do sintoma escolar, fomos levados a perceber que existe um sentido particular dado pela singularidade individual e determinado pela estrutura de personalidade do sujeito, que encontra em nossa cultura condições e terreno fértil para sua formação.
Assim, a prática leva-nos a considerar o alcance da teoria e a definir o método de investigação adotado.
Apoiados nos casos clínicos e no paradigma científico pós-moderno, procuramos construir um instrumento de revisão crítica de alguns conceitos teóricos que vêm norteando a clínica dos problemas escolares.
Com base nessas considerações, foi-se dando a tessitura desta tese cuja apresentação final consta de sete capítulos, escritos na forma de versões que iluminam nossa questão.
Apresentamos no Capítulo 1, “Fracasso escolar: um sintoma social da contemporaneidade”, uma breve incursão na literatura que trata a questão do fracasso escolar apontando as dicotomias decorrentes da postura científica que predomina na academia até os dias atuais.
No Capítulo 2, “Campo epistemológico”, definimos a postura epistemológica e as estratégias de pensamento adotadas, e apresentamos o corpus crítico e a necessidade de trabalhar a questão-problema por meio de versões teóricas.
No Capítulo 3, “Pensando a escola: da consciência filosófica à modernidade e formação de um sintoma social na contemporaneidade”, apresentamos uma digressão histórico-filosófica com o objetivo de rastrear as vicissitudes de nossa cultura ocidental, que fizeram do problema da aprendizagem escolar um sintoma social.
No Capítulo 4, “O sintoma escolar: uma questão de sentido e direção”, estudamos a especificidade do sintoma na aprendizagem escolar.
Partimos da noção de sintoma do ponto de vista psicanalítico e buscamos seu sentido como uma criação particular, única de cada sujeito, que encontra em nossa cultura as condições de possibilidade de sua formação; ela levou-nos a perceber a necessidade de avançarmos nos estudos sobre o sintoma escolar.
Mostramos que, quando o sintoma se apresenta como problema na aprendizagem escolar, encontra terreno fértil e ocupa uma posição privilegiada no mundo em que vivemos, definindo a direção da intervenção.
No Capítulo 5, "A Psicopatologia Fundamental aproximando-nos do fenômeno em questão", apresentamos um estudo a respeito da origem filogenética do psiquismo e de seu caráter psicopatológico, com base nas formulações freudianas, passando a seguir ao estudo da personalidade e conduta do ser humano de uma perspectiva da Psicopatologia Psicanalítica.
No Capítulo 6, "O sintoma escolar em sua singularidade: a prática interrogando a teoria", analisamos o sentido do sintoma escolar considerando os casos que motivaram nosso estudo e com base nos pressupostos da teoria do desenvolvimento emocional de Winnicott e da psicologia da conduta de Bleger.
São dois casos exemplares que, em sua complexidade, possibilitaram-nos repensar nossa clínica.
Foram chamados caso G.
e caso C.
, e nos foram encaminhados em virtude de sua problemática escolar, ou seja, com o pedido de intervenção psicopedagógica.
G.
chegou a nossa clínica com 6 anos e 11 meses, apresentando severas dificuldades na área da cognição, linguagem e motricidade.
Havia ingressado na pré-escola naquele ano e sua professora considerava-o deficiente mental, chegando a sugerir aos pais que procurassem uma escola especial para alunos deficientes.
No entanto, ao longo do processo de intervenção, G.
revelou-nos o sentido original de seu sintoma: uma forma de defender seu eu do fracasso ambiental.
C.
por sua vez, uma garota de 11 anos, que cursava a 5a série, chegou à clínica por exigência da escola, após ter agredido fisicamente a professora de Matemática, grávida de sete meses.
Seus pais traziam como queixa: comportamento agressivo, dificuldades na escrita e em Matemática e problemas de relacionamento.
O sintoma de C.
, muito mais do que indicar um entrave, revelava seu ser, uma singularidade que não encontrava outra forma de existir que não fosse na própria estrutura de seu sintoma.
Fazia sintoma em relação à aprendizagem escolar porque o saber escolar não lhe interessava; queria saber além, queria saber o não sabido, estava procurando o impossível, aquela situação em que acreditou uma vez encontrar-se e supunha ser plena.
A cada sessão, G.
e C.
levaram-nos a repensar nossa clínica e a interrogar a teoria.
Além desses, ao longo do texto, apresentamos fragmentos de outros casos, que ilustram as formulações teóricas que desenvolveremos.
Assim, em “Tecendo um novo olhar sobre o sintoma escolar”, podemos então responder à pergunta: Em que circunstâncias um comportamento culturalmente determinado torna-se sintomático? Discorremos então sobre as condições de possibilidade de uma forma de subjetividade que, diante do imaginário da pós-modernidade, opera o sintoma escolar.
Assim, fomos tecendo um novo olhar sobre o sintoma escolar, que resulta do descentramento possibilitado pelos diferentes campos epistemológicos.
Como conseqüência, deparamo-nos com teorias relativizadas e um desvelamento do fenômeno estudado.
Por fim, apresentamos as modificações operadas na prática, ou seja uma nova forma de atuar, em que não existe um manejo único, mas adaptações que visam fazer frente às necessidades de cada um e que dependem da experiência emocional do paciente.
Como diz Winnicott (1982, p.
480) "aqui o trabalho terapêutico se liga àquele feito pelo cuidado infantil, pela amizade, pela fruição da poesia e atividades culturais em geral".

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