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(RE)Ligar a Geografia
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Passados alguns anos da publicação do livro Geografia Física e Geomorfologia, uma (Re) Leitura, fui estimulada a elaborar uma reedição de textos /artigos publicados desde então, mais precisamente após os anos 2000. Este livro é, portanto, o resultado deste resgate. Diferentemente daquele, não dispusemos os textos de forma cronológica. Optou-se por fazer uma ordenação que permitisse ao leitor compreender a proposição feita a partir do que em cada texto, e na sua sequência, está enunciado.
Para compor este livro foram selecionados 12 textos, alguns já anteriormente publicados em revistas nacionais, outros escritos para dar suporte a alguma mesa ou palestra em que fui convidada a falar sobre o tema. Talvez cause estranheza uma publicação de textos já publicados, a justificativa neste caso diz respeito ao fato de que: artigos divulgados em diferentes revistas, sob temas diversos, são a característica atual e mais “valorizada” sob a perspectiva de uma avaliação acadêmica. Entretanto, considero que no espaço de um texto em formato de artigo o autor não tem possibilidade de aprofundar seus argumentos ou mesmo suas análises e interpretações. O livro favorece a ampliação das ideias e ao mesmo tempo exige uma leitura mais lenta, portanto, mais reflexiva. Os autores perguntarão se, nesse caso, este livro que constitui a reunião de artigos responderia sobre essa ideia de aprofundamento de argumentos. Talvez sim, talvez não. Entretanto, ao construí-lo, organizamos uma sequência de temas que permitem ao leitor e a leitora (assim imagino) uma melhor compreensão da “evolução” do pensamento de quem escreve, ou como escreve Nelson Rego no prefácio do livro Geografia Física e Geomorfologia, uma (Re) Leitura:
Os tempos se interpenetram. Onde está mesmo o início? E o fim?
As inquietações geradas pelo que veio antes arremessam para adiante um projeto. Em busca desse projeto, continua a se desenvolver o percurso. O percurso faz, desfaz, refaz projetos. Em busca desses projetos o percurso...
Procuro neste momento, mais uma vez, refazer o projeto, para isto andei, retrocedi, me reorientei, transitei do presente ao passado (retomando alguns clássicos), retornei ao presente, refleti, escrevi.
Mas é preciso dizer que neste percurso de reflexão sobre Geografia, Geografia Física, Geomorfologia, não andei sozinha e se avancei nesses questionamentos foi graças ao diálogo realizado em diferentes momentos, em diferentes eventos, onde fui escutada, questionada, aprovada ou reprovada em minhas posições. Estes me auxiliaram sobremaneira, me instigaram e me permitiram um diálogo. Semelhante ao que Nelson escreveu no prefácio anteriormente citado:
Cada novo momento, que depois será revisto como um antes, arremessa-se para adiante em busca do esclarecimento de si mesmo, através de um novo projeto que nunca será alcançado. Nunca será alcançado por obra e graça de sua própria fecundidade, porque, lançado para adiante, o projeto puxou na sua direção o percurso da vida e a vida, ao pôr-se em percurso, ao viver, reviu o seu antes e ressignificando o seu antes mais uma vez desfez/refez o seu projeto, que outra vez lançado para adiante, puxará em sua direção o...
Por entender as palavras do Nelson e reconhecer essa dialética, é que devo agradecer pelos percursos que fiz, a convite de inúmeros colegas, em território brasileiro, para conversar sobre Geografia. Esses textos aqui compilados não teriam sido escritos sem o fecundo diálogo nesses momentos todos que vivi.
Onde termina o trabalho cotidiano e múltiplo e começa um livro? Onde termina o animado diálogo da sala de aula (ou em eventos geográficos) e começa a silenciosa reflexão da pessoa recolhida em si mesma? Ou vice-versa?
Trata-se a pergunta acima de, novamente, Nelson Rego interrogando. É certo, e respondo agora neste momento que o que aqui apresento é produto, talvez, de uma reflexão silenciosa da pessoa recolhida em si mesma, e carrega o trabalho cotidiano e múltiplo de lugares e ideias por onde andou.
O que consta deste livro. Inicio com o texto Geografia Física: de onde viemos, para onde vamos? – produto do SBGFA, realizado em Vitória - ES, 2013. Considerando a cronologia dos textos este deveria ser um dos últimos, mas na lógica estabelecida neste livro é o primeiro, ele nos situa em relação as nossas origens geográficas e em particular em relação à Geografia Física.
O segundo texto – O que expressavam os estudos de Geografia Física no início dos anos 1990? – é resultado de um levantamento sobre a produção em Geografia Física registrada nos anais do IV SBGFA realizado em Porto Alegre em 1992, apresentado em mesa redonda, no SBGFA em 2011, ocorrido em Dourados-MS. Trata-se de um texto que expressa um levantamento das informações e ao final levanta questões sobre a produção geográfica neste subcampo da Geografia. Aqui estão esboçadas algumas questões que em outros momentos serão discutidas de forma mais ampliada.
O terceiro, denominado Um antigo (e ainda atual) debate: a divisão e a unidade da Geografia, foi publicado no Boletim Paulista, São Paulo, 2006. Resgata a discussão entre natureza e sociedade e procura demonstrar que essa articulação, hoje, ultrapassa o objeto geográfico e se torna uma condição para entendimento do mundo contemporâneo.
Na continuidade tem-se o texto Geografia, Geografia Física e/ou Geomorfologia? – aqui se apresentam temas para debate e o objetivo é tencionar a relação entre Geografia Física e Geomorfologia. Foi publicado na Revista da ANPEGE em 2009.
O texto Geografia Física: ciência básica, ciência aplicável? Foi apresentado no SBGFA, realizado em Santa Maria (2008). Pelo que se evidenciou no Simpósio, o subcampo Geografia Física estava consolidado e a questão em debate consistia em refletir sobre Geografia Física - Ciência Aplicada. Nesse texto trato de ciência aplicada ou ciência aplicável, considerando, por sua vez, que a aplicabilidade do conhecimento tem vínculo com a política. Dela depende a possibilidade e, mais, o objetivo (a intencionalidade) dessa aplicação.
O texto seguinte – Geografia e Geomorfologia, Implicações, Quais? – foi escrito para publicação pela AGB – Curitiba (?). Nesse, derivo a discussão para a Geomorfologia em suas diferentes concepções e encaminhamentos, e sua relação com a Geografia. Expresso também uma avaliação sobre a presença da Geomorfologia no currículo/grades dos cursos de Geografia.
Na continuidade, no texto Tempo Geomorfológico, Interfaces Geomorfológicas coloco a discussão relativa ao tempo já divulgada em outro momento, acrescentando pequenos complementos ao texto original. Trata-se de uma reprodução de capítulo publicado no livro Geografia Física e Geomorfologia, uma (Re) Leitura (2002). Sua reprodução decorre do pedido feito por alguns leitores do livro anterior.
Os quatro últimos capítulos são dedicados à reflexão sobre a natureza. Que natureza? Qual Espaço Geográfico? Apresenta uma reflexão sobre concepções de natureza no contexto geográfico além de expressar argumentos que indicam a necessidade de refletir sobre o conceito de ambiente. É produto de uma sistematização de ideias dispersas em diferentes textos ou expostas em diferentes momentos agrupadas neste, como um ensaio reflexivo.
Ritmos e subordinação da natureza constitui uma síntese das ideias apresentadas na Mesa Redonda Mudanças Ambientais de Ciclo Curto: ações e efeitos antropogênicos no X EGAL – realizado em São Paulo 2005, posteriormente resgatadas e ampliadas para debate no VI ENANPEGE – Fortaleza, 2005. Publicado posteriormente na coletânea Panorama da Geografia Brasileira 2 – ANPEGE. O texto trata dos ritmos da natureza, associando-os aos tempos longos e curtos e relacionando-os, aos processos de subordinação da natureza derivados da organização social e de sua forma de produção.
Natureza: Tempos Longos... Tempos Curtos... é resultado da reunião de dois textos, um relativo à minha fala na mesa em que participei durante o II Encontro Estadual de Geografia (Colatina/ Espirito Santo), e o outro corresponde à versão ampliada publicada sob o título Tempos Longos... Tempos Curtos... na revista Geografares, 2002, Vitória – Espírito Santo. Neste abstraí as referências à Geomorfologia e me detenho sobre a categoria natureza e seu movimento.
Naturezas: epistemes sociais foi originariamente apresentado no Encontro Nacional de Geografia (ENG), que ocorreu em Belo Horizonte no ano de 2012. O objetivo é trazer à discussão as diferentes concepções de natureza, que dão suporte à política, à economia e à cultura, contemporaneamente.
Geografia e Ambiente: desafios ou novos olhares constitui um pequeno ensaio sobre o conceito de ambiente no contexto geográfico. São palavras introdutórias sobre: sociedade x cultura ou, mais explicitamente, cultura e modo de produção.
Me permito após indicar este ordenamento textual, colocar alguns excertos de uma de minhas falas, no ENG em Vitória – ES, 2014, em mesa cujo título foi: O espaço da (na) natureza e a natureza do (no) espaço.
De onde falo. A busca de compreensão e a análise geográfica que aqui expresso é proveniente de uma posição na Geografia que busca, na compreensão do espaço geográfico, a articulação natureza-sociedade. Tento compreender Geografia a partir da concepção de totalidade (dialética). Expresso uma posição intelectual que percebe que a necessidade de conjunção do conhecimento, na sociedade contemporânea, ultrapassa a Geografia. Compartilho de referências que compreendem que, a Geografia, sobretudo, pela sua história, tem muito que contribuir na discussão sobre a mediação sociedade e natureza. Apresento a seguir, a partir destas considerações iniciais, algumas afirmações para a formulação do Projeto.
A Geografia e a concepção de natureza, enquanto externa ao homem. A natureza, enquanto instância externa ao homem ou à sociedade, nos leva a refletir sobre a concepção de natureza que adotamos no campo geográfico. Historicamente como algo externo, contemporaneamente, para alguns geógrafos, como natureza artificial, cibernética (SANTOS,1997), derivada ou derivações da natureza (MONTEIRO, 2000, 2003) ou transfigurada (conceito presente em RECLUS 1905-1908, em L' homme et la Terre) e utilizada por mim, desde 2000.
A naturalização do homem ou a socialização da natureza. Ao pensar a natureza como externa, tem-se a separação entre homem e natureza - herança do pensamento ocidental e suporte da economia neoclássica. Ao pensar no campo da dialética, compreende-se o homem enquanto espécie - como natureza que, ao se socializar, gradativamente socializa a natureza. Então, não se trata de naturalizar o homem; é a natureza, inclusive a do homem, que se socializa. Muito embora socializar-se não signifique humanizar-se.
O conceito de metabolismo como expressão da relação homem e natureza e da questão ambiental. Na lógica dialética de Marx, agora, segundo FOSTER (2010), a base para um possível entendimento da questão ambiental corresponde ao conceito de metabolismo entendido como o processo pelo qual o homem, através de suas ações, medeia, regula e controla o metabolismo entre ele mesmo e a natureza. (p.201).
A falha metabólica com ruptura, ou seja, como decorrente do processo de socialização da natureza pelo homem, via trabalho. O rompimento desta relação orgânica, Marx denominou de falha metabólica. Falha metabólica constitui a essência da compreensão da separação do homem da natureza e a sua progressiva alienação. Portanto, o metabolismo, como conceito unificador do homem com a natureza, ao mesmo tempo, se constitui pelo seu rompimento; o processo que separa o homem da natureza, gradativamente, no decorrer da história. Este movimento nos parece ainda visível, certamente, na sociedade contemporânea, manifesto na valoração da natureza, enquanto valor de uso (em sociedades indígenas e/ou comunitárias, por exemplo) e valor de troca (sociedades capitalistas, individualistas e consumistas como a nossa), tencionados, esses diferentes valores, pelas formas atuais de apropriação de territórios e recursos, capital e trabalho, acumulação/consumismo e sobrevivência.
Devemos nos perguntar, então, o que entendemos por natureza. A natureza enquanto concepção é (no meu entendimento) tudo aquilo que é produzido/organizado/reorganizado/transformado sem a intencionalidade humana, inclusive no próprio homem (sua dimensão biológica). São as coisas que compõem a superfície da Terra e seu invólucro próximo e mesmo distante. É a interação dessas coisas no espaço-tempo. Se diferencia dos objetos, posto que estes, são construídos com intencionalidade (SANTOS,1997), através de projetos, de difusão de ideias, ideologias. Entretanto, a natureza é, enquanto percebida, concebida, representada como um conceito. Sendo um conceito, nos remete a uma construção social/cultural.
O espaço da natureza. Devemos entendê-lo como espaço fundante de vida biológica e social do homem. O espaço na natureza se revela pelas relações dos fenômenos físicos e/ou naturais.
A natureza, no espaço geográfico, se revela pela sua condição constituinte/fundante da vida e das sociedades humanas. Sem natureza não haveria os homens/mulheres /sociedades. Sem homens/mulheres, não haveria natureza (enquanto concepção conceitual, portanto, cultural; mas também econômica e política). No campo materialista, a natureza é objetiva e antecede ao homem, entretanto, é reconhecida de diferentes formas conceituais, de acordo com a sociedade/cultura.
A natureza do espaço (geográfico). Esse, enquanto espaço produzido, inclui as instâncias do natural e do social. No espaço geográfico, a natureza é um de seus constituintes. Nesse, a natureza, objetivamente, se transforma de natureza natural em natureza produzida socialmente - a segunda natureza de Marx, a natureza artificializada (de Santos), a natureza transfigurada, conforme Suertegaray, pelo trabalho humano. A natureza transfigurada revela, como de suas dimensões, a questão ambiental, podendo esta (agora ambiente) apresentar-se degradada para a manutenção da vida. A questão ambiental é por isso uma expressão da sociedade contemporânea em tenso debate.
Os estudos da natureza na Geografia. Na Geografia, os estudos relativos à natureza se expressam de diferentes formas e revelam a concepção de natureza e de mundo de quem a analisa. Sendo assim, tem-se:
• Estudos específicos que revelam a origem e a dinâmica da natureza em si. São expressões de uma separação da sociedade da natureza. Estão no campo da Geomorfologia, Hidrologia, Pedologia, Biogeografia, etc. São estudos específicos dessas áreas, entretanto, são denominados Geografia Física. São necessários, sim! Mas, não suficientes para compor uma análise geográfica.
• Estudos de articulação natureza e sociedade, que sob a ótica do ambiente buscam compreender a relação natureza x sociedade a partir dos impactos do homem. Concebendo o sujeito (homem) como abstrato, genérico e revelam, na sua maioria, os impactos negativos dessa ação sobre a natureza. Estes estudos identificam degradações na natureza e propõe formas de mitigar, conservar, preservar, através do planejamento ambiental. É uma forma de gerir e controlar.
São necessários, sim, mas na medida em que se revelam preocupados com os impactos na natureza e não com os homens/mulheres socialmente posicionados, não são suficientes para compor uma análise geográfica.
Há também estudos que buscam compreender, de outra forma, a relação homem x natureza. Centram essa relação no campo social. Buscam compreender a totalidade, compreendem a posição dos homens e mulheres a partir de classes (por exemplo, trabalhadores, camponeses) ou modos de vida (por exemplo, ribeirinhos, quilombolas...) e mais, invertem a questão. Não se perguntam sobre os impactos da sociedade na natureza, mas buscam analisar os impactos da natureza transfigurada, degradada na vida humana.
Sobre à natureza do espaço. Para além da concepção de espaço como suporte, receptáculo, hoje, concebemos espaço como relação entre coisas e/ou objetos. Essas podem ser relações físicas, de distância ou mediações/ações humanas. Sendo espaço entendido como relação entre coisas e/ou objetos, podemos aceitar que existe um espaço natural, quando nos referimos às coisas e abstraímos o homem e a sociedade - conforme atuam as ciências naturais.
Podemos admitir que há um espaço social e espaço das relações entre os homens. É o espaço das ciências sociais. Podemos admitir que há um espaço geográfico, o espaço das relações entre as coisas, os objetos e as ações/mediações humanas/sociais. É o espaço da Geografia, uma ciência humana/social.
Estes fragmentos esboçam, quiçá, o projeto.
As inquietações geradas pelo que veio antes arremessam para adiante um projeto. Em busca desse projeto, continua a se desenvolver o percurso. O percurso faz, desfaz, refaz projetos. Em busca desses projetos o percurso... Nelson Rego (2002).
Title: (RE)Ligar a Geografia
Description:
Passados alguns anos da publicação do livro Geografia Física e Geomorfologia, uma (Re) Leitura, fui estimulada a elaborar uma reedição de textos /artigos publicados desde então, mais precisamente após os anos 2000.
Este livro é, portanto, o resultado deste resgate.
Diferentemente daquele, não dispusemos os textos de forma cronológica.
Optou-se por fazer uma ordenação que permitisse ao leitor compreender a proposição feita a partir do que em cada texto, e na sua sequência, está enunciado.
Para compor este livro foram selecionados 12 textos, alguns já anteriormente publicados em revistas nacionais, outros escritos para dar suporte a alguma mesa ou palestra em que fui convidada a falar sobre o tema.
Talvez cause estranheza uma publicação de textos já publicados, a justificativa neste caso diz respeito ao fato de que: artigos divulgados em diferentes revistas, sob temas diversos, são a característica atual e mais “valorizada” sob a perspectiva de uma avaliação acadêmica.
Entretanto, considero que no espaço de um texto em formato de artigo o autor não tem possibilidade de aprofundar seus argumentos ou mesmo suas análises e interpretações.
O livro favorece a ampliação das ideias e ao mesmo tempo exige uma leitura mais lenta, portanto, mais reflexiva.
Os autores perguntarão se, nesse caso, este livro que constitui a reunião de artigos responderia sobre essa ideia de aprofundamento de argumentos.
Talvez sim, talvez não.
Entretanto, ao construí-lo, organizamos uma sequência de temas que permitem ao leitor e a leitora (assim imagino) uma melhor compreensão da “evolução” do pensamento de quem escreve, ou como escreve Nelson Rego no prefácio do livro Geografia Física e Geomorfologia, uma (Re) Leitura:
Os tempos se interpenetram.
Onde está mesmo o início? E o fim?
As inquietações geradas pelo que veio antes arremessam para adiante um projeto.
Em busca desse projeto, continua a se desenvolver o percurso.
O percurso faz, desfaz, refaz projetos.
Em busca desses projetos o percurso.
Procuro neste momento, mais uma vez, refazer o projeto, para isto andei, retrocedi, me reorientei, transitei do presente ao passado (retomando alguns clássicos), retornei ao presente, refleti, escrevi.
Mas é preciso dizer que neste percurso de reflexão sobre Geografia, Geografia Física, Geomorfologia, não andei sozinha e se avancei nesses questionamentos foi graças ao diálogo realizado em diferentes momentos, em diferentes eventos, onde fui escutada, questionada, aprovada ou reprovada em minhas posições.
Estes me auxiliaram sobremaneira, me instigaram e me permitiram um diálogo.
Semelhante ao que Nelson escreveu no prefácio anteriormente citado:
Cada novo momento, que depois será revisto como um antes, arremessa-se para adiante em busca do esclarecimento de si mesmo, através de um novo projeto que nunca será alcançado.
Nunca será alcançado por obra e graça de sua própria fecundidade, porque, lançado para adiante, o projeto puxou na sua direção o percurso da vida e a vida, ao pôr-se em percurso, ao viver, reviu o seu antes e ressignificando o seu antes mais uma vez desfez/refez o seu projeto, que outra vez lançado para adiante, puxará em sua direção o.
Por entender as palavras do Nelson e reconhecer essa dialética, é que devo agradecer pelos percursos que fiz, a convite de inúmeros colegas, em território brasileiro, para conversar sobre Geografia.
Esses textos aqui compilados não teriam sido escritos sem o fecundo diálogo nesses momentos todos que vivi.
Onde termina o trabalho cotidiano e múltiplo e começa um livro? Onde termina o animado diálogo da sala de aula (ou em eventos geográficos) e começa a silenciosa reflexão da pessoa recolhida em si mesma? Ou vice-versa?
Trata-se a pergunta acima de, novamente, Nelson Rego interrogando.
É certo, e respondo agora neste momento que o que aqui apresento é produto, talvez, de uma reflexão silenciosa da pessoa recolhida em si mesma, e carrega o trabalho cotidiano e múltiplo de lugares e ideias por onde andou.
O que consta deste livro.
Inicio com o texto Geografia Física: de onde viemos, para onde vamos? – produto do SBGFA, realizado em Vitória - ES, 2013.
Considerando a cronologia dos textos este deveria ser um dos últimos, mas na lógica estabelecida neste livro é o primeiro, ele nos situa em relação as nossas origens geográficas e em particular em relação à Geografia Física.
O segundo texto – O que expressavam os estudos de Geografia Física no início dos anos 1990? – é resultado de um levantamento sobre a produção em Geografia Física registrada nos anais do IV SBGFA realizado em Porto Alegre em 1992, apresentado em mesa redonda, no SBGFA em 2011, ocorrido em Dourados-MS.
Trata-se de um texto que expressa um levantamento das informações e ao final levanta questões sobre a produção geográfica neste subcampo da Geografia.
Aqui estão esboçadas algumas questões que em outros momentos serão discutidas de forma mais ampliada.
O terceiro, denominado Um antigo (e ainda atual) debate: a divisão e a unidade da Geografia, foi publicado no Boletim Paulista, São Paulo, 2006.
Resgata a discussão entre natureza e sociedade e procura demonstrar que essa articulação, hoje, ultrapassa o objeto geográfico e se torna uma condição para entendimento do mundo contemporâneo.
Na continuidade tem-se o texto Geografia, Geografia Física e/ou Geomorfologia? – aqui se apresentam temas para debate e o objetivo é tencionar a relação entre Geografia Física e Geomorfologia.
Foi publicado na Revista da ANPEGE em 2009.
O texto Geografia Física: ciência básica, ciência aplicável? Foi apresentado no SBGFA, realizado em Santa Maria (2008).
Pelo que se evidenciou no Simpósio, o subcampo Geografia Física estava consolidado e a questão em debate consistia em refletir sobre Geografia Física - Ciência Aplicada.
Nesse texto trato de ciência aplicada ou ciência aplicável, considerando, por sua vez, que a aplicabilidade do conhecimento tem vínculo com a política.
Dela depende a possibilidade e, mais, o objetivo (a intencionalidade) dessa aplicação.
O texto seguinte – Geografia e Geomorfologia, Implicações, Quais? – foi escrito para publicação pela AGB – Curitiba (?).
Nesse, derivo a discussão para a Geomorfologia em suas diferentes concepções e encaminhamentos, e sua relação com a Geografia.
Expresso também uma avaliação sobre a presença da Geomorfologia no currículo/grades dos cursos de Geografia.
Na continuidade, no texto Tempo Geomorfológico, Interfaces Geomorfológicas coloco a discussão relativa ao tempo já divulgada em outro momento, acrescentando pequenos complementos ao texto original.
Trata-se de uma reprodução de capítulo publicado no livro Geografia Física e Geomorfologia, uma (Re) Leitura (2002).
Sua reprodução decorre do pedido feito por alguns leitores do livro anterior.
Os quatro últimos capítulos são dedicados à reflexão sobre a natureza.
Que natureza? Qual Espaço Geográfico? Apresenta uma reflexão sobre concepções de natureza no contexto geográfico além de expressar argumentos que indicam a necessidade de refletir sobre o conceito de ambiente.
É produto de uma sistematização de ideias dispersas em diferentes textos ou expostas em diferentes momentos agrupadas neste, como um ensaio reflexivo.
Ritmos e subordinação da natureza constitui uma síntese das ideias apresentadas na Mesa Redonda Mudanças Ambientais de Ciclo Curto: ações e efeitos antropogênicos no X EGAL – realizado em São Paulo 2005, posteriormente resgatadas e ampliadas para debate no VI ENANPEGE – Fortaleza, 2005.
Publicado posteriormente na coletânea Panorama da Geografia Brasileira 2 – ANPEGE.
O texto trata dos ritmos da natureza, associando-os aos tempos longos e curtos e relacionando-os, aos processos de subordinação da natureza derivados da organização social e de sua forma de produção.
Natureza: Tempos Longos.
Tempos Curtos.
é resultado da reunião de dois textos, um relativo à minha fala na mesa em que participei durante o II Encontro Estadual de Geografia (Colatina/ Espirito Santo), e o outro corresponde à versão ampliada publicada sob o título Tempos Longos.
Tempos Curtos.
na revista Geografares, 2002, Vitória – Espírito Santo.
Neste abstraí as referências à Geomorfologia e me detenho sobre a categoria natureza e seu movimento.
Naturezas: epistemes sociais foi originariamente apresentado no Encontro Nacional de Geografia (ENG), que ocorreu em Belo Horizonte no ano de 2012.
O objetivo é trazer à discussão as diferentes concepções de natureza, que dão suporte à política, à economia e à cultura, contemporaneamente.
Geografia e Ambiente: desafios ou novos olhares constitui um pequeno ensaio sobre o conceito de ambiente no contexto geográfico.
São palavras introdutórias sobre: sociedade x cultura ou, mais explicitamente, cultura e modo de produção.
Me permito após indicar este ordenamento textual, colocar alguns excertos de uma de minhas falas, no ENG em Vitória – ES, 2014, em mesa cujo título foi: O espaço da (na) natureza e a natureza do (no) espaço.
De onde falo.
A busca de compreensão e a análise geográfica que aqui expresso é proveniente de uma posição na Geografia que busca, na compreensão do espaço geográfico, a articulação natureza-sociedade.
Tento compreender Geografia a partir da concepção de totalidade (dialética).
Expresso uma posição intelectual que percebe que a necessidade de conjunção do conhecimento, na sociedade contemporânea, ultrapassa a Geografia.
Compartilho de referências que compreendem que, a Geografia, sobretudo, pela sua história, tem muito que contribuir na discussão sobre a mediação sociedade e natureza.
Apresento a seguir, a partir destas considerações iniciais, algumas afirmações para a formulação do Projeto.
A Geografia e a concepção de natureza, enquanto externa ao homem.
A natureza, enquanto instância externa ao homem ou à sociedade, nos leva a refletir sobre a concepção de natureza que adotamos no campo geográfico.
Historicamente como algo externo, contemporaneamente, para alguns geógrafos, como natureza artificial, cibernética (SANTOS,1997), derivada ou derivações da natureza (MONTEIRO, 2000, 2003) ou transfigurada (conceito presente em RECLUS 1905-1908, em L' homme et la Terre) e utilizada por mim, desde 2000.
A naturalização do homem ou a socialização da natureza.
Ao pensar a natureza como externa, tem-se a separação entre homem e natureza - herança do pensamento ocidental e suporte da economia neoclássica.
Ao pensar no campo da dialética, compreende-se o homem enquanto espécie - como natureza que, ao se socializar, gradativamente socializa a natureza.
Então, não se trata de naturalizar o homem; é a natureza, inclusive a do homem, que se socializa.
Muito embora socializar-se não signifique humanizar-se.
O conceito de metabolismo como expressão da relação homem e natureza e da questão ambiental.
Na lógica dialética de Marx, agora, segundo FOSTER (2010), a base para um possível entendimento da questão ambiental corresponde ao conceito de metabolismo entendido como o processo pelo qual o homem, através de suas ações, medeia, regula e controla o metabolismo entre ele mesmo e a natureza.
(p.
201).
A falha metabólica com ruptura, ou seja, como decorrente do processo de socialização da natureza pelo homem, via trabalho.
O rompimento desta relação orgânica, Marx denominou de falha metabólica.
Falha metabólica constitui a essência da compreensão da separação do homem da natureza e a sua progressiva alienação.
Portanto, o metabolismo, como conceito unificador do homem com a natureza, ao mesmo tempo, se constitui pelo seu rompimento; o processo que separa o homem da natureza, gradativamente, no decorrer da história.
Este movimento nos parece ainda visível, certamente, na sociedade contemporânea, manifesto na valoração da natureza, enquanto valor de uso (em sociedades indígenas e/ou comunitárias, por exemplo) e valor de troca (sociedades capitalistas, individualistas e consumistas como a nossa), tencionados, esses diferentes valores, pelas formas atuais de apropriação de territórios e recursos, capital e trabalho, acumulação/consumismo e sobrevivência.
Devemos nos perguntar, então, o que entendemos por natureza.
A natureza enquanto concepção é (no meu entendimento) tudo aquilo que é produzido/organizado/reorganizado/transformado sem a intencionalidade humana, inclusive no próprio homem (sua dimensão biológica).
São as coisas que compõem a superfície da Terra e seu invólucro próximo e mesmo distante.
É a interação dessas coisas no espaço-tempo.
Se diferencia dos objetos, posto que estes, são construídos com intencionalidade (SANTOS,1997), através de projetos, de difusão de ideias, ideologias.
Entretanto, a natureza é, enquanto percebida, concebida, representada como um conceito.
Sendo um conceito, nos remete a uma construção social/cultural.
O espaço da natureza.
Devemos entendê-lo como espaço fundante de vida biológica e social do homem.
O espaço na natureza se revela pelas relações dos fenômenos físicos e/ou naturais.
A natureza, no espaço geográfico, se revela pela sua condição constituinte/fundante da vida e das sociedades humanas.
Sem natureza não haveria os homens/mulheres /sociedades.
Sem homens/mulheres, não haveria natureza (enquanto concepção conceitual, portanto, cultural; mas também econômica e política).
No campo materialista, a natureza é objetiva e antecede ao homem, entretanto, é reconhecida de diferentes formas conceituais, de acordo com a sociedade/cultura.
A natureza do espaço (geográfico).
Esse, enquanto espaço produzido, inclui as instâncias do natural e do social.
No espaço geográfico, a natureza é um de seus constituintes.
Nesse, a natureza, objetivamente, se transforma de natureza natural em natureza produzida socialmente - a segunda natureza de Marx, a natureza artificializada (de Santos), a natureza transfigurada, conforme Suertegaray, pelo trabalho humano.
A natureza transfigurada revela, como de suas dimensões, a questão ambiental, podendo esta (agora ambiente) apresentar-se degradada para a manutenção da vida.
A questão ambiental é por isso uma expressão da sociedade contemporânea em tenso debate.
Os estudos da natureza na Geografia.
Na Geografia, os estudos relativos à natureza se expressam de diferentes formas e revelam a concepção de natureza e de mundo de quem a analisa.
Sendo assim, tem-se:
• Estudos específicos que revelam a origem e a dinâmica da natureza em si.
São expressões de uma separação da sociedade da natureza.
Estão no campo da Geomorfologia, Hidrologia, Pedologia, Biogeografia, etc.
São estudos específicos dessas áreas, entretanto, são denominados Geografia Física.
São necessários, sim! Mas, não suficientes para compor uma análise geográfica.
• Estudos de articulação natureza e sociedade, que sob a ótica do ambiente buscam compreender a relação natureza x sociedade a partir dos impactos do homem.
Concebendo o sujeito (homem) como abstrato, genérico e revelam, na sua maioria, os impactos negativos dessa ação sobre a natureza.
Estes estudos identificam degradações na natureza e propõe formas de mitigar, conservar, preservar, através do planejamento ambiental.
É uma forma de gerir e controlar.
São necessários, sim, mas na medida em que se revelam preocupados com os impactos na natureza e não com os homens/mulheres socialmente posicionados, não são suficientes para compor uma análise geográfica.
Há também estudos que buscam compreender, de outra forma, a relação homem x natureza.
Centram essa relação no campo social.
Buscam compreender a totalidade, compreendem a posição dos homens e mulheres a partir de classes (por exemplo, trabalhadores, camponeses) ou modos de vida (por exemplo, ribeirinhos, quilombolas.
) e mais, invertem a questão.
Não se perguntam sobre os impactos da sociedade na natureza, mas buscam analisar os impactos da natureza transfigurada, degradada na vida humana.
Sobre à natureza do espaço.
Para além da concepção de espaço como suporte, receptáculo, hoje, concebemos espaço como relação entre coisas e/ou objetos.
Essas podem ser relações físicas, de distância ou mediações/ações humanas.
Sendo espaço entendido como relação entre coisas e/ou objetos, podemos aceitar que existe um espaço natural, quando nos referimos às coisas e abstraímos o homem e a sociedade - conforme atuam as ciências naturais.
Podemos admitir que há um espaço social e espaço das relações entre os homens.
É o espaço das ciências sociais.
Podemos admitir que há um espaço geográfico, o espaço das relações entre as coisas, os objetos e as ações/mediações humanas/sociais.
É o espaço da Geografia, uma ciência humana/social.
Estes fragmentos esboçam, quiçá, o projeto.
As inquietações geradas pelo que veio antes arremessam para adiante um projeto.
Em busca desse projeto, continua a se desenvolver o percurso.
O percurso faz, desfaz, refaz projetos.
Em busca desses projetos o percurso.
Nelson Rego (2002).
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Marcela Fernández Valenzuela
Profesora de Historia, Geografía y Educación Cívica, Licenciada en Educación con mención en Geografía por la Universidad Metropolitana de Ciencia...
A GRADUAL CONSOLIDAÇÃO DO CONSTRUCTO DE GEOGRAFIA DE HETTNER: 1901 – 1908
A GRADUAL CONSOLIDAÇÃO DO CONSTRUCTO DE GEOGRAFIA DE HETTNER: 1901 – 1908
No presente artigo serão analisados os textos metódicos e metodológicos fundamentais de Alfred Hettner (1859-1941) publicados no espaço de tempo de 1901 a 1908. Com estes textos H...
A GRADUAL CONSOLIDAÇÃO DO CONSTRUCTO DE GEOGRAFIA DE HETTNER: 1901 – 1908
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No presente artigo serão analisados os textos metódicos e metodológicos fundamentais de Alfred Hettner (1859-1941) publicados no espaço de tempo de 1901 a 1908. Com estes textos H...
Filosofia do ensino de Geografia
Filosofia do ensino de Geografia
Este texto ensaia a construção de uma Filosofia do ensino de Geografia. Inspirado na perspectiva crítica de Immanuel Kant, trata de pensar esse projeto por meio de quatro encaminha...
GEOGRAFIA MÉDICA E GEOGRAFIA DA SAÚDE
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Resumo Desde o início de sua história o homem sempre procurou entender como ocorrem as doenças. Nessa perspectiva já na antiguidade Hipócrates relacionou a propagação das doenças a...
A PESQUISA NO ENSINO DE GEOGRAFIA: ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES NA REVISTA DE ENSINO DE GEOGRAFIA DE 2011 A 2020
A PESQUISA NO ENSINO DE GEOGRAFIA: ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES NA REVISTA DE ENSINO DE GEOGRAFIA DE 2011 A 2020
O presente artigo apresenta o resultado de uma revisão bibliográfica, metodologicamente estruturada como uma revisão sistemática de literatura, que se encarregou de analisar as dis...


