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Diários de Fritz Tolksdorf: uma vida no arinos
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“Diários de Fritz Tolksdorf: uma vida no Arinos”, organizado por João Carlos Barrozo e Anna Maria Ribeiro F. Moreira da Costa, apresenta seis diários e outros escritos do alemão luterano Frederich Paul Tolksdorf (1912-1992), mais conhecido por Fritz Tolksdorf. Em 1996, os diários, originalmente escritos em alemão, foram traduzidos para o português pelo Pe. Peter von Werden (1928-2015) com autorização da viúva Herta Klein Tolksdorf, com quem o alemão se casou em 1981, em Mato Grosso. O livro, apresentado pelo Pe. Aloir Pacini, é dedicado aos povos indígenas Apiacá, Kaiabi, Rikbaktsa e Tapayuna e está dividido em 3 partes. A Parte 1, “Olhares sobre Fritz Tolksdorf”, apresenta os textos “Papai, você está me deixando?”, de autoria do filho adotivo de Fritz e Herta, Loike Kalapalo, “Um alemão na floresta”, dos enviados especiais do Jornal do Brasil, Tarcísio Baltazar e Rubens Barbosa, escrito em 1969, “Encontro de um jesuíta com um luterano”, do sociólogo João Carlos Barrozo, “Fritz: diários em diálogos”, da historiadora Anna Maria Ribeiro F. Moreira da Costa e “Fritz: todos antes já se tinham afetos”, do indigenista José Eduardo F. Moreira da Costa. A Parte 2, “Diários: uma vida no Arinos”, traz, na íntegra, o conjunto dos seis diários, datados de 1958 a 1969. A Parte 3, “Escritos avulsos tolksdorfianos”, disponibiliza “Notas de Fritz Tolksdorf de 1954, 1956 e 1957”, “Surgir e desaparecer da Missão Evangélica entre os índios de Mato Grosso”, “Escrito em Fazenda Santa Lúcia”, “Escrito em Fazenda Luzia”, “Problemas índios do tempo atual”, “Índios da região das nascentes do Xingu” e “Nack ta kak-hui”, uma relação de vocábulos em alemão-rikbaktsa-português. Por fim, um apêndice contendo “Trechos de relatórios anuais da Missão Anchieta”. A ideia da tradução dos diários de Tolksdorf para a língua portuguesa iniciou com o indigenista Ivar Busatto ao comunicar sua existência ao etnólogo, Pe. Adalberto Holanda Pereira (1927-1996). Um encontro foi proposto com Adalberto Holanda Pereira, José Eduardo F. Moreira da Costa, indigenista, Anna Maria Ribeiro F. Moreira da Costa, historiadora, e Herta Klein Tolksdorf, ex-professora da então denominada Fundação Nacional do Índio (Funai). Nesse encontro, foi discutida e autorizada a tradução e publicação dos diários. Pe. Peter von Werden e Pe. José de Moura e Silva organizaram o volumoso material composto por diários, notas, vocabulários e apêndices. A reunião da documentação produzida por Tolksdorf passou a ser denominada pelo tradutor como “Entre seringueiros, índios, agrimensores, colonos e garimpeiros de Mato Grosso”. Fritz Tolksdorf narrou sua vida cotidiana na gleba Arinos, enquanto trabalhou na Empresa de Colonização Norte Matogrossense (Conomali) e, mais tarde, com o Pe. João Evangelista Dornstauder (1904-1994). Os diários, caracterizados por ser uma escrita autobiográfica, descrevem o processo de apropriação dos territórios dos povos nativos por empresários, seringueiros, aventureiros. Também registram as percepções do alemão diante à atuação evangelizadora dos jesuítas e luteranos, da Missão Anchieta e da Comunidade Luterana Concórdia, respectivamente, bem como o contato conflituoso dos seringueiros com os indígenas Rikbaktsa, Kaiabi e Apiaká. Fritz Tolksdorf revelou pouco de sua vida antes de chegar à gleba Arinos, em 1956. Nascido em Göttingen, cidade de Westfalen, na Alemanha, em 1939 viajou para o Brasil e, a partir de Cuiabá, a cavalo, percorreu as cabeceiras do Xingu, quando visitou aldeias indígenas. Os diários apresentam muitos personagens, entre os quais o Pe. João Evangelista Dornstauder. O missionário chegou à Missão de Utiariti em 1947, para dar assistência aos indígenas. Com a intensificação dos conflitos entre Rikbaktsa e seringueiros, os jesuítas deram ao Pe. Dornstauder o encargo de intermediar os conflitos. Nessas circunstâncias, conheceu Tolksdorf, quando o convidou para trabalhar no Posto Santa Rosa, base de apoio aos indígenas. Pe. Dornstauder viajou constantemente entre o Posto Santa Rosa, o Utiariti, a gleba Arinos e as aldeias. Em seu retorno, quase sempre, o barco transportava indígenas doentes e crianças órfãs. Fritz passou a ser responsável pelo posto indígena, onde prestou assistência aos indígenas que chegavam em busca de atendimento. Pe. Dornstauder foi uma figura emblemática. Para a igreja e para os jesuítas, um missionário abnegado que levou sua missão até as últimas consequências; um sertanista, pacificador, que dialogou com seringueiros e indígenas; para os indígenas, um homem diferente dos outros “brancos”, que procurou ajudá-los, compreendê-los, defendê-los. Nos dizeres do Pe. Aloir Pacini, foi um “artífice da paz”. Os diários deixam transparecer o que Fritz viu e viveu na colonizadora, no Posto Santa Rosa, nas viagens pelos rios, convivendo com pessoas muito diversas, sem, contudo, naturalizar a violência que caracterizou as relações entre os não indígenas e os indígenas, reveladas nos diários, escritos à luz de lamparina. Fritz criticou o descaso e a omissão do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) que, para ele, consistiu em “um nome bonito, mas como qualquer outro, só som e fumaça”. Muitas vezes, sem sucesso, procurou o SPI em Cuiabá e no Rio de Janeiro para obter informações acerca da política indigenista e da disponibilidade de recursos financeiros para serem aplicados na assistência aos indígenas. Tolksdorf manteve contato com pessoas influentes no campo da Antropologia Indígena, entre os quais Darcy Ribeiro e Egon Schaden. Tolksdorf teceu críticas à desastrosa expedição chefiada pelo sertanista José Américo Peret (1926-2011) ao território do povo Tapayuna, autodenominado Kajkhwakratxi-jê, da qual participou. Nos diários, Tolksdorff fez referência à “guerra cruel” entre seringueiros e indígenas, onde o fuzil é superior à flecha, resultando no extermínio lento e silencioso dos povos indígenas da região. Como um lamento, Fritz concluiu: “Não posso fazer nada para os índios”.
Title: Diários de Fritz Tolksdorf: uma vida no arinos
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“Diários de Fritz Tolksdorf: uma vida no Arinos”, organizado por João Carlos Barrozo e Anna Maria Ribeiro F.
Moreira da Costa, apresenta seis diários e outros escritos do alemão luterano Frederich Paul Tolksdorf (1912-1992), mais conhecido por Fritz Tolksdorf.
Em 1996, os diários, originalmente escritos em alemão, foram traduzidos para o português pelo Pe.
Peter von Werden (1928-2015) com autorização da viúva Herta Klein Tolksdorf, com quem o alemão se casou em 1981, em Mato Grosso.
O livro, apresentado pelo Pe.
Aloir Pacini, é dedicado aos povos indígenas Apiacá, Kaiabi, Rikbaktsa e Tapayuna e está dividido em 3 partes.
A Parte 1, “Olhares sobre Fritz Tolksdorf”, apresenta os textos “Papai, você está me deixando?”, de autoria do filho adotivo de Fritz e Herta, Loike Kalapalo, “Um alemão na floresta”, dos enviados especiais do Jornal do Brasil, Tarcísio Baltazar e Rubens Barbosa, escrito em 1969, “Encontro de um jesuíta com um luterano”, do sociólogo João Carlos Barrozo, “Fritz: diários em diálogos”, da historiadora Anna Maria Ribeiro F.
Moreira da Costa e “Fritz: todos antes já se tinham afetos”, do indigenista José Eduardo F.
Moreira da Costa.
A Parte 2, “Diários: uma vida no Arinos”, traz, na íntegra, o conjunto dos seis diários, datados de 1958 a 1969.
A Parte 3, “Escritos avulsos tolksdorfianos”, disponibiliza “Notas de Fritz Tolksdorf de 1954, 1956 e 1957”, “Surgir e desaparecer da Missão Evangélica entre os índios de Mato Grosso”, “Escrito em Fazenda Santa Lúcia”, “Escrito em Fazenda Luzia”, “Problemas índios do tempo atual”, “Índios da região das nascentes do Xingu” e “Nack ta kak-hui”, uma relação de vocábulos em alemão-rikbaktsa-português.
Por fim, um apêndice contendo “Trechos de relatórios anuais da Missão Anchieta”.
A ideia da tradução dos diários de Tolksdorf para a língua portuguesa iniciou com o indigenista Ivar Busatto ao comunicar sua existência ao etnólogo, Pe.
Adalberto Holanda Pereira (1927-1996).
Um encontro foi proposto com Adalberto Holanda Pereira, José Eduardo F.
Moreira da Costa, indigenista, Anna Maria Ribeiro F.
Moreira da Costa, historiadora, e Herta Klein Tolksdorf, ex-professora da então denominada Fundação Nacional do Índio (Funai).
Nesse encontro, foi discutida e autorizada a tradução e publicação dos diários.
Pe.
Peter von Werden e Pe.
José de Moura e Silva organizaram o volumoso material composto por diários, notas, vocabulários e apêndices.
A reunião da documentação produzida por Tolksdorf passou a ser denominada pelo tradutor como “Entre seringueiros, índios, agrimensores, colonos e garimpeiros de Mato Grosso”.
Fritz Tolksdorf narrou sua vida cotidiana na gleba Arinos, enquanto trabalhou na Empresa de Colonização Norte Matogrossense (Conomali) e, mais tarde, com o Pe.
João Evangelista Dornstauder (1904-1994).
Os diários, caracterizados por ser uma escrita autobiográfica, descrevem o processo de apropriação dos territórios dos povos nativos por empresários, seringueiros, aventureiros.
Também registram as percepções do alemão diante à atuação evangelizadora dos jesuítas e luteranos, da Missão Anchieta e da Comunidade Luterana Concórdia, respectivamente, bem como o contato conflituoso dos seringueiros com os indígenas Rikbaktsa, Kaiabi e Apiaká.
Fritz Tolksdorf revelou pouco de sua vida antes de chegar à gleba Arinos, em 1956.
Nascido em Göttingen, cidade de Westfalen, na Alemanha, em 1939 viajou para o Brasil e, a partir de Cuiabá, a cavalo, percorreu as cabeceiras do Xingu, quando visitou aldeias indígenas.
Os diários apresentam muitos personagens, entre os quais o Pe.
João Evangelista Dornstauder.
O missionário chegou à Missão de Utiariti em 1947, para dar assistência aos indígenas.
Com a intensificação dos conflitos entre Rikbaktsa e seringueiros, os jesuítas deram ao Pe.
Dornstauder o encargo de intermediar os conflitos.
Nessas circunstâncias, conheceu Tolksdorf, quando o convidou para trabalhar no Posto Santa Rosa, base de apoio aos indígenas.
Pe.
Dornstauder viajou constantemente entre o Posto Santa Rosa, o Utiariti, a gleba Arinos e as aldeias.
Em seu retorno, quase sempre, o barco transportava indígenas doentes e crianças órfãs.
Fritz passou a ser responsável pelo posto indígena, onde prestou assistência aos indígenas que chegavam em busca de atendimento.
Pe.
Dornstauder foi uma figura emblemática.
Para a igreja e para os jesuítas, um missionário abnegado que levou sua missão até as últimas consequências; um sertanista, pacificador, que dialogou com seringueiros e indígenas; para os indígenas, um homem diferente dos outros “brancos”, que procurou ajudá-los, compreendê-los, defendê-los.
Nos dizeres do Pe.
Aloir Pacini, foi um “artífice da paz”.
Os diários deixam transparecer o que Fritz viu e viveu na colonizadora, no Posto Santa Rosa, nas viagens pelos rios, convivendo com pessoas muito diversas, sem, contudo, naturalizar a violência que caracterizou as relações entre os não indígenas e os indígenas, reveladas nos diários, escritos à luz de lamparina.
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